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Em meio a perseguição a cristãos, Índia impede que fundação da Madre Teresa receba doações

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Protesto em defesa da comunidade muçulmana da Índia, que também sofre perseguição de supremacistas hindus 

O governo do primeiro-ministro indiano Narendra Modi se recusou nesta segunda-feira a renovar uma permissão para que as Missionárias da Caridade, a fundação criada pela Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), possa receber fundos estrangeiros, cortando uma fonte importante de renda da entidade que dá assistência a pessoas pobres.

A decisão ocorreu em meio a uma crescente perseguição a comunidades cristãs na Índia, promovida por supremacistas hindus ligados ao partido de Modi, o Barathiya Janata (Partido do Povo Indiano). A importante minoria muçulmana indiana também é alvo dos mesmos grupos.

Madre Teresa, freira católica premiada com o Nobel, fundou as Missionárias da Caridade em 1950, com sede no estado indiano de Bengala Ocidental. A instituição conta com mais de 3.000 freiras em todo o mundo que administram hospitais, cozinhas comunitárias, escolas, colônias para pacientes de hanseníase e lares para crianças abandonadas.

Contexto:Prisões, espancamentos e orações secretas: realidade dos cristãos da Índia é de perseguição

O governo de Modi justificou a decisão sob a Lei de Regulamentação de Contribuições Estrangeiras depois de receber “informações controversas” da fundação. “Ao considerar o pedido de renovação, algumas informações controversas foram notadas”, disse o Ministério do Interior em comunicado, sem dar detalhes.

O ministério negou uma acusação anterior da ministra-chefe (governadora) do estado de Bengala Ocidental, Mamata Banerjee, de que as contas bancárias das Missionárias da Caridade teriam sido congeladas.

A fundação pediu aos seus centros que não recebam quaisquer doações do exterior até que o assunto seja resolvido.

Grupos radicais hindus ligados ao Barathiya Janata acusam as Missionárias de liderar programas de conversão religiosa sob o pretexto da caridade, oferecendo a hindus pobres e comunidades tribais comida, remédios, dinheiro, educação gratuita e abrigo. A fundação nega a acusação.

Mais cedo, a governadora Banerjee escreveu em um tuíte que ficou chocada ao saber que, no Natal, o Ministério da União havia congelado todas as contas bancárias das Missionárias da Caridade na Índia.

“Seus 22.000 pacientes e funcionários ficaram sem alimentos e medicamentos. Embora a lei seja fundamental, os esforços humanitários não devem ser comprometidos”, disse Banerjee, opositora de Modi.

A disputa vem dias depois de grupos hindus linha-dura interromperem cultos de Natal em partes da Índia, incluindo em alguns estados governados pelo partido de Modi. Cristãos representam apenas 2,3% do 1,37 bilhão de habitantes da Índia, enquanto os hindus são a esmagadora maioria.

Desde que o primeiro-ministro chegou ao poder em 2014, grupos da direita hindu consolidaram sua posição em todos os estados e lançaram ataques contra as minorias religiosas, alegando que estão tentando evitar conversões.

O jornal Hindu relatou nesta segunda-feira interrupções das celebrações de Natal no fim de semana e na semana passada, incluindo a vandalização de uma estátua em tamanho real de Jesus Cristo em Haryana, um estado do Norte da Índia governado pelo Bharatiya Janata.

O jornal disse que ativistas queimaram uma figura de Papai Noel e gritaram slogans contra o Natal do lado de fora de uma igreja em Varanasi, a cidade mais sagrada do hinduísmo.

Elias Vaz, vice-presidente nacional da União Católica da Índia, condenou os incidentes.

— A força da Índia está em sua diversidade e as pessoas que fizeram isso no Natal são os verdadeiros antinacionalistas — disse Vaz.

Vários estados indianos aprovaram ou estão discutindo leis anticonversão que desafiam o direito à liberdade de crença no país, protegido pela Constituição.

Foto: SAJJAD HUSSAIN / AFP/24-12-2021

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