Internacional
Número de deslocados no mundo pode chegar a 140 milhões em 2024, alerta ACNUR
A ACNUR estima que, em 2025, o número de refugiados e deslocados deve ascender a 140 milhões de pessoas. A organização assume que neste ano vai precisar de 10 mil milhões para combater esta subida
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que o número de pessoas forçadas a deixar suas casas atinja 140 milhões este ano, mantendo a tendência de crescimento dos últimos 12 anos. Segundo Joana Feliciano, responsável de Comunicação e Relações Externas do ACNUR em Portugal, esse aumento reflete o agravamento das crises humanitárias e a necessidade urgente de assistência internacional.
Atualmente, há mais de 122 milhões de pessoas deslocadas à força, incluindo refugiados, requerentes de asilo, apátridas e deslocados internos. De acordo com Feliciano, esses indivíduos são vítimas do crescimento dos conflitos, violações de direitos humanos e perseguições, além dos impactos crescentes das mudanças climáticas, que geram crises humanitárias em regiões como Moçambique, Sahel, Corno de África e Myanmar.
Para 2025, o ACNUR prevê que serão necessários 10 mil milhões de euros para garantir respostas humanitárias, especialmente em emergências críticas, como as da Ucrânia, Líbano, Etiópia, Sudão, Myanmar, Afeganistão e Síria. No entanto, o financiamento global enfrenta desafios, agravados pela recente decisão da administração dos Estados Unidos de suspender, por 90 dias, a ajuda externa fornecida pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), o maior doador individual do mundo. Segundo Feliciano, essa medida afetará diretamente o ACNUR, já que os EUA são um dos principais financiadores da assistência humanitária.
A crise no Sudão é uma das mais alarmantes. Desde o início dos conflitos, em abril de 2023, mais de 12 milhões de pessoas fugiram de suas casas, e esse número pode ultrapassar 16 milhões em 2025. O Afeganistão também preocupa, enfrentando uma crise econômica severa, impactos climáticos crescentes e restrições aos direitos das mulheres e meninas desde a tomada de poder pelos talibãs em 2021.
Outras emergências prolongadas incluem Myanmar, onde a repressão à comunidade rohingya persiste sete anos após o êxodo de 750 mil pessoas, e a República Democrática do Congo, onde a escalada da violência já deslocou mais de 400 mil pessoas desde o início de 2025. Na Síria, após a ofensiva do grupo Hayat Tahrir al-Sham que derrubou o regime de Bashar al-Assad, o ACNUR trabalha para apoiar aqueles que desejam retornar ao país.
A agência estima que 2,9 milhões de refugiados precisarão ser reinstalados em 2025. No entanto, Feliciano alerta que as necessidades continuam a superar os recursos disponíveis. Atualmente, cerca de 300 milhões de pessoas no mundo necessitam de assistência humanitária e proteção, incluindo os 140 milhões de deslocados forçados previstos. Diante desse cenário, a representante do ACNUR em Portugal faz um apelo à solidariedade global para evitar cortes na resposta humanitária e garantir a proteção dos mais vulneráveis.