Internacional
M23 declara cessar-fogo humanitário no leste da República Democrática do Congo
O Movimento 23 de Março (M23) anunciou nesta segunda-feira (3) um cessar-fogo humanitário a partir de terça-feira (4), uma semana após a conquista da cidade estratégica de Goma, na província de Kivu do Norte, após intensos combates contra o exército congolês.
Em comunicado, a Aliança do Rio Congo (AFC-M23), uma coalizão político-militar congolesa que inclui o M23, afirmou que a decisão foi tomada em resposta à crise humanitária gerada pelo governo de Kinshasa. O cessar-fogo foi declarado por razões humanitárias.
Após a ocupação de Goma, que tem cerca de 2 milhões de habitantes, o M23 garantiu que não pretende avançar para Bukavu, a capital da província vizinha de Kivu do Sul, onde também houve incursões na semana passada. O grupo rebelde esclareceu que não tem interesse em tomar a cidade, mas reafirmou seu compromisso de proteger a população civil e manter suas posições.
Os insurgentes também condenaram o uso de aeronaves militares pelas Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) no aeroporto de Kavumu, em Kivu do Sul, acusando-os de lançar bombas que atingem civis nas áreas controladas pelo M23. Além disso, pediram à missão de paz da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), a SAMIDR, que retire suas forças da RDC, alegando que sua presença não é mais justificada.
A declaração do cessar-fogo ocorre após o presidente do Quênia, William Ruto, anunciar que uma cúpula conjunta das lideranças da Comunidade da África Oriental (EAC) e da SADC será realizada na Tanzânia no próximo sábado (8) para discutir a escalada do conflito.
De acordo com o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), mais de 900 pessoas morreram nos confrontos em Goma e áreas adjacentes. O M23, que já havia tomado a cidade de Goma em 2012, recuperou o controle da cidade há uma semana, e a atividade econômica começou a ser gradualmente retomada. No entanto, o fornecimento de água potável continua sendo um desafio para os moradores.
O M23 é um grupo armado formado principalmente por tutsis, muitos dos quais foram vítimas do genocídio em Ruanda em 1994. Sua ofensiva tem aumentado as tensões com a Ruanda, com o governo congolês acusando o país vizinho de apoiar o M23. Em contrapartida, Ruanda e o M23 acusam o exército congolês de colaborar com as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), um grupo formado por líderes do genocídio e outros ruandeses exilados. A ONU corrobora essa acusação.
O M23 retomou suas atividades militares em novembro de 2021, com ataques rápidos ao exército congolês em Kivu do Norte, e desde então tem avançado em várias frentes até alcançar Goma.
O anúncio do cessar-fogo foi saudado pelo G7, grupo formado por Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, juntamente com o Alto Representante da União Europeia (UE), que condenaram a ofensiva do M23 e pediram a proteção urgente dos civis. O G7 exigiu o fim de qualquer apoio ao M23 e a todos os grupos armados não estatais na RDC, além de demandar a retirada do grupo rebelde de todas as áreas sob seu controle. O grupo também fez um apelo para que todas as partes se comprometam com uma resolução pacífica e negociada do conflito.