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Empresa alerta sobre detritos de teste antissatélite russo

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Lixo metálico espacial causa possibilidade de colisão

Milhares de pedaços de lixo metálico espacial provocados por demonstração russa de arma antissatélite, lançada em novembro, deram origem a várias ondas de aproximações a satélites ativos em órbita baixa da Terra.

Os detritos são tantos que as agências dedicadas ao rastreio do lixo espacial dizem que, em alguns casos, surgem dezenas de milhares de hipóteses de colisão por semana.

Esses eventos, classificados de “rajadas de conjunção” pela empresa COMSPOC, que faz o rastreio espacial de satélites, foram registrados pela primeira vez em janeiro.

Eles decorrem das circunstâncias únicas do teste russo Asat, realizado em 15 de novembro, que destruiu o satélite Cosmos 1408 e criou milhares de pedaços de detritos orbitais.

Para se ter maior noção do que poderão ser essas rajadas de conjunção, imagine um tiro de caçadeira em que os chumbos viajam não muito dispersos, mas com amplitude suficiente para atingir um conjunto de pássaros voando em bando.

Travis Langster, vice-presidente da COMSPOC, está tão preocupado com as ondas de lixo que afirmou abertamente, durante o 24º FAA Commercial Space, em 17 de fevereiro, que espera o pior para o início de abril: “Na primeira semana de abril, somente nesse período, haverá 40 mil conjunções (ondas) que prevemos a partir desse evento”.

As ondas surgiram da destruição do Cosmos 1408 e agora se encontram na órbita de várias constelações de satélites sensoriais remotos, que exercem importantes funções de monitoramento terrestre, marítimo e meteorológico.

O satélite russo Cosmos 1408 encontra-se em órbita com inclinação de 82,3 graus, diferente de muitos satélites remotos estacionados em órbitas sincronizadas com o Sol, com inclinações de cerca de 97 graus. Os detritos criados sobrepõem-se às órbitas dos satélites, com o agravante de se deslocar na direção oposta, ou seja, em choque frontal.

“Quando os detritos se sincronizam, provocam a tempestade perfeita: estão no mesmo plano de órbita, mas viajando em sentido contrário, cruzando-se duas vezes numa órbita, repetidamente”, explica Dan Oltrogge, diretor de Operações Integradas e Pesquisa da COMSPOC. As ondas de detritos vão durar vários dias até que as órbitas saiam de sincronia.

A empresa registrou, pela primeira vez, um aumento nas conjunções no início do ano, que colocaram em risco um grupo de cubesats (satélite miniaturizado usado para pesquisas espaciais e comunicações radioamadoras) de imagem Dove operados pela Planet. A primeira onda atingiu o pico com cerca de 4 mil conjunções diárias, definidas como aproximações dentro de dez quilômetros, em 2 de janeiro. Desde então, já foram registradas novas ondas, chegando a cerca de duas conjunções por dia a outro conjunto de satélites Planet que opera na região orbital.

O COMSPOC prevê agora uma rajada de conjunção ainda mais forte no início de abril, quando os destroços encontrarem vários cubesats Flocks of Planet, incluindo um pico de mais de 14 mil conjunções no dia 5 de abril.

Dan Oltrogge, explicou que a constelação dos satélites remotos da Planet é, potencialmente, a mais afetada, entre as demais (Satellogic, Spire e Swarm), devido ao elevado número de satélites que operam nessa órbita baixa. Mas não está sozinha. “Isso não é diferente para qualquer sistema de observação da Terra que usa órbitas sincronizadas com o sol nessa altitude”, disse. “E, infelizmente, estamos à espera de que muito do que está lá em cima seja afetado”.

A empresa prevê que, na onda prevista para o início de abril, as conjunções a envolver todos os satélites ativos em órbita baixa da Terra atinjam pico de quase 50 mil por dia.

No entanto, como muitos desses satélites são cubesats (de pequenas dimensões), o risco de colisões pode ser atenuado. Se ocorrerem, no entanto, vão surgir novos detritos a voar em várias direções, podendo afetar outras órbitas e outros satélites.

Apesar de a COMSPOC estar particularmente preocupada com as constelações que habitam a região orbital, não se excluem os satélites fora das órbitas sincronizadas com o Sol, como a constelação Starlink, da SpaceX.

A agência diz esperar que, dado o limite da SpaceX de realizar manobras automatizadas para evitar colisões, quando houver uma hipótese de colisão de um em 100 mil, a constelação Starlink esteja preparada para deslocar seus satélites até 80 manobras por dia. Mas isso implica verdadeira dor de cabeça para os controladores dos satélites em órbita.

Oltrogge alertou que essas vagas de conjunção podem sobrecarregar os sistemas de consciência situacional espacial (SSA) e dificultar a identificação de outras colisões potenciais pelos operadores. “Os sistemas SSA, legados e comerciais, serão prejudicados”, afirma . “Se quer encontrar agulha no palheiro, livre-se do feno. Mas isso está juntando muito feno”.

Foto: Philippe Lima/Governo do Estado do Rio de Janeiro
Fonte: Agência Brasil

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